Quando os Demônios Descem o Morro

Com base na dupla experiência de ficcionista e diretor do Museu da Inconfidência, Rui Mourão conseguiu mostrar a cidade histórica mineira por um lado surpreendentemente inovador, ao considerar o problema da linguagem que perpassa os dois campos. É realizada verdadeira desmontagem e remontagem do núcleo urbano, que vai pondo em relevo, até por contradição, a sua realidade profunda.
As transformações evolutivas operadas no Museu da Inconfidência, que se impõem como casos aparentemente centralizadores logo transbordam os limites da simples unidade exemplar, porque o mundo está palpitante de vida lá fora - não existe diferença entre o que se encontra isolado entre quatro paredes -, e num movimento de rotação que progressivamente se expande distanciando do seu eixo, da ambientação da cidade se expande para a ambientação do mundo. A vida se revela típica e particular só na aparência. Ela é fatalmente, irredutivelmente universal.
O drama acontece, pois o coletivo é sempre resultado da diversidade, e através de lideranças contraditórias é que o homem progride na construção do coletivo.
O livro é de leitura fácil. As idéias são expostas através da representação objetiva do fluxo narrativo, confrontando pessoas e opiniões, dando amplo lugar ao sarcasmo, ao humor, ao calor humano. Ao final da estória, o que o leitor terá diante dos olhos é um novo capítulo da odisseia humana nos tempos modernos.(m3/06nov13)