Este livro se propõe a desdobrar o que está em jogo na descoberta freudiana. Nada mais distante da psicanálise do que a ideia de um saber clínico objetivado e separado do confronto do caso a caso. Este livro não é um resumo da vida ou da obra de Freud. Sua direção é precisa - como Freud encontrou essa Outra cena que é o inconsciente? Quais as consequências que ele tirou disso? Serão desdobradas algumas dessas implicações para a clínica, apontando o que elas apresentam de inédito. Esse inédito tem um nome - causalidade psíquica. Essa expressão deve permitir que se compreenda que, se o homem tem um cérebro, ele não é seu cérebro. Sua especificidade é a de ser um sujeito que fala e que é sujeito apenas por essa razão. Ao mesmo tempo, ele está assujeitado à linguagem em que habita e, pela palavra extraída da linguagem, pode ser sujeito do desejo. Segundo afirma Freud, com essa finalidade, ela (a psicanálise) deve permanecer separada de todo pressuposto de natureza anatômica, química ou fisiológica, assim como de alguma coisa que lhe é estranha. Essa leitura de Freud não deixa de levar em conta o ensino de Jacques Lacan (1901- 1981), que, por seu retorno a Freud, permitiu à psicanálise reencontrar a radicalidade de seu criador e às gerações de analistas, não ficarem como errantes na prática clínica. Ler Freud com Lacan é ler Freud com rigor - literalmente (à la lettre). Quais descobertas faremos sobre a vida dos singulares falasseres (parlêtres) que, segundo Lacan, nós somos?